Mesóclise no primeiro elogio ao Brasil.

O PRIMEIRO ELOGIO QUE SE FEZ AO BRASIL FOI COM MESÓCLISE.

Mesóclise na carta de Caminha.

            “[…] águas são muitas, infindas; [a terra] em tal maneira é graciosa que, querendo a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem […].” Pero Vaz, de Caminha, a el-rei em sua célebre missiva.
O primeiro encômio que se fez ao que depois se tornou o Brasil foi escrito com belíssima mesóclise (“dar-se-á”).

Se motivos de correção e elegância não houvesse para usarmo-la, há este, de ufania para brasileiros: foi com mesóclise que por primeiro alguém elogiou águas e terras brasileiras.

Falai e escrevei a mesóclise, orgulhosamente; para tal, inspirai-vos na riquíssima e fascinante relação do encontro de duas civilizações no instante fundador do Brasil oficial.

Lede a carta que, dia por dia, consignou a fraternidade entre portugueses e silvícolas; desfrutai da narrativa de testemunha presencial em documento de tipo único na história dos povos. E recordai-vos, gostosamente, das palavras simpáticas de Pero Vaz, para com a natureza brasileira; atentai para que, terra, era-lhe graciosa, águas, infindas, agricultura, promissora e que o encontro da graça daquela, do infindável da segunda, do promissor da terceira, enunciou-o ele por mesóclise: dar-se-á, que vale por símbolo, símbolo da graça da língua portuguesa, do infindo de suas possibilidades, do promissor de sua literatura, de sua prosa, de sua poesia.

Com a língua portuguesa dar-se-á e dão-se tantas graças, e tantas graças infindas, e tantas infindas promissões quantos forem seus usuários que a conheçam, que a amem, que a usem amorosamente. Que nos seja ela um de nossos amores, ou o único, se outro não tivermos, e se somente esse tivermos, teremos amor desacompanhado — oh, lástima ! — porém amor venturoso  — oh, privilégio !

Oh, língua portuguesa! Oh, língua graciosa ! Oh, beldade e luz !

Brasil conhecido. Carta de Cabral.

Caminha e Cabral sabiam da existência do Brasil; este possivelmente já cá estivera antes de 1500. A famosa carta foi relatório para o rei, encomendado; a informação do passo com mesóclise é de que a agricultura prosperava e a água doce abundava: secretamente haviam vindo povoadores antes de 1500; pelo menos, em Pernambuco houve (talvez em 1500 houvera) feitoria portuguesa em 1490.

Como explicar a indiferença de Caminha diante do descobrimento da “nova” terra ? Ele sabia-lhe da existência. E os dois degredados que cá ficaram, os dois grumetes que desertaram, os tais dezoito outros que desertaram também —foram reunir-se aos índios ou a compatriotas seus ?

Das inúmeras outra cartas redigidas então, perderam-se algumas no terremoto de 1755, exceto a de Caminha e a de Cabral, que a deste confessa a intencionalidade da rota seguida pela frota e o prévio conhecimento que detinham ele e el-rei, da existência do futuro Brasil, em sua missiva a D. Manuel: “[…] em obediencia a instruçam de vossa alteza navegamos no Ocidente e tomamos posse, com padram, da Terra de vossa alteza que os antigos chamavam Brandam ou Brasil”, por sua vez encontrada em 1343, pelo mareante português Sancho Brandão[1].

Caminha é explícito em que Nicolau Coelho estivera no Brasil antes de 1500.

[1] CINTRA, Francisco de Assis. No limiar da história. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1923. Arquivo das Colônias, número 26, 1929, Portugal. HELENO, Manuel. O descobrimento da América. Lisboa, 1933, p. 19. COSTA, Sérgio Corrêa da. Brasil, segredo de Estado. Rio de Janeiro, editora Record, 2001, p. 66.

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