Brasil já conhecido na carta de Caminha.

 

CAMINHA NÃO ESCREVEU “PLANTANDO TUDO DÁ” E INDICIA PRESENÇA PORTUGUESA NO BRASIL ANTES DE 1500. CABRAL NO BRASIL ANTES DE 1500 ?
Caminha não escreveu a célebre frase que se lhe atribui. Escreveu: “Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem.”

O primeiro encômio que se fez ao que depois se tornou o Brasil foi feito com belíssima mesóclise (“dar-se-á”). Se outros motivos de correção e elegância não houvesse para usarmo-la, há este, de ufania para brasileiros: foi com mesóclise que Caminha por primeiro elogiou águas e terras brasileiras.

E agora, tome muito tento: E a repetidíssima frase do “plantando dá”, olhando-a bem, é muito esquisita. O homem não era agrônomo ou plantador. Como podia ele saber se a terra dava ou não dava ? Secretamente, tinha vindo gente. Secretamente, tinha plantado coisas. Ele estava a dizer ao Rei que essas plantações davam magníficos resultados.

A citação é de Tomás Colaço Ribeiro, em Pedro Álvares Cabral, de Eduardo Metzer Leone, excelente livro, que merece edição brasileira.

Caminha não refere a presença de portugueses em Porto Seguro; não os havia lá, em abril de 1500, mas ele teria informação da fertilidade da terra, proveniente de dez anos de navegações secretas desenvolvidas por mareantes vários, dentre quem o próprio Cabral, de quem se sabe haver sido agraciado com tença por el-rei d. João II, que morreu em 1495. Destarte, Cabral realizou feitos até 1495. Desconhece-se quais foram, ao mesmo tempo em que as navegações mantinham-se debaixo de mui rigoroso sigilo e em que D. Manoel jamais confiaria a importante esquadra que foi a de Cabral a navegador inexperiente nas cousas do mar; ao contrário: somente confiá-la-ia a alguém hábil e traquejado.
Tais circunstâncias justificam a conclusão de que no reinado del-rei d. João II Cabral (aliás, Pedro Álvares Gouveia) desenvolveu navegações secretas até o ano de 1495.

Atente em que D. Manoel indigitou Cabral e não outro, para a viagem ao Brasil. Por que precisamente ele ? Provavelmente, possivelmente, por haver sido ele o real achador do Brasil ou, pelo menos, já cá teria estado antes de 1500. Certo é que antes de Cabral zarpar, já havia mapa-múndi em que se marcava o futuro Brasil e que Duarte Pacheco Pereira foi enviado por el-rei D. Manuel ao futuro Brasil em 1498, mas o rei atribuiu o comando da esquadra a Cabral e não a Pereira. Nela também navegavam, como capitães de naves, além de Pereira, Bartolomeu Dias (que alcançou por vez primeira o cabo da Boa Esperança) e Nicolau Coelho, que acompanhou Vasco da Gama em sua primeira ida ao oriente.
Havia, além de outros, estes três valiosos marinheiros. No entanto, não foi a eles que d. Manuel confiou o comando da expedição e sim a Cabral. Por quê ? É outro indício em favor da presença de Cabral antes de 1500, no futuro Brasil, incrementado ainda pela informação explícita, propiciada por Caminha, de que Nicolau Coelho já cá estivera.

Também é de Ribeiro a nota de que a carta, minudente, extensa, em jeito de relatório, terá sido prevista, desejada e encomendada por el-rei. Todos os capitães da frota (Cabral inclusivamente) missivaram-lhe, porém suas cartas perderam-se (em 1570, deu-se incêndio em Lisboa; em 1612, os arquivos portugueses foram saqueados pelos espanhóis; em 1755, o terramoto, maremoto e incêndio consumiram mais documentário). Eles ter-se-ão referido ao que lhes competia: à singradura, aos fatos de navegação, em que teria sido reveladora a direitura em que a frota navegou, rumo ao que veio a ser o Brasil.

Caminha exprime: “assim seguimos nosso caminho” até haverem vista de terra, que o mesmo é dizer: seguiram normalmente sua rota, do Cabo Verde ao que veio a ser o Brasil. Seguiram sua rota. Atente: a rota era a que conduzia à costa em que surgiram. Cabral veio intencionalmente, com rumo certo, o que, aliás, é óbvio.

Em PDF, a demonstração completa de que a carta de Caminha revela conhecimento do Brasil: Caminha. Brasil já conhecido na carta de Caminha.

Esse post foi publicado em Cabral., Caminha., História luso-brasileira. Bookmark o link permanente.

Uma resposta para Brasil já conhecido na carta de Caminha.

  1. Pingback: Cabral no Brasil antes de 1500 ? | Arthur Virmond de Lacerda Neto

Deixe um comentário