Em que creio

                                                                                                                Em que creio. Credo humanista e ateu.

31.III.2004

 

 

                Redigi “Aquilo em que creio ou credo positivista” em 1988, aos meus 21 anos de idade. Publiquei-o sob  forma de opúsculo que distribui às mancheias na Faculdade  de Direito da Universidade Federal do Paraná, que, à altura, cursava como seu quarto-anista. Em segunda edição publiquei-o, idêntico, em 1991. A versão atual simplifica o enunciado das precedentes, reduzindo cada afirmação a aforisma, tanto quanto possível.

                                                                                                             

 

1-       Creio no surgimento do Homem e  do Mundo como resultado de um processo de evolução natural, ao invés de em sua criação por um deus todo-poderoso.

2-       Creio na existência de leis inerentes à natureza, que regem todos os  fenômenos do Mundo e do  Homem, ao invés de na ação de um ente voluntarioso que os governe.

3-       Creio em tudo quanto cuja existência é averigüada pela observação e nas explicações da ciência, dos fenômenos quaisquer, ao invés de na existência da divindade e da alma, na ressurreição de Cristo, nos milagres e em fantasias semelhantes.

4-       Creio no ser humano como o único agente capaz de intervir sobre o Mundo e sobre si próprio,  com base no esclarecimento científico,  ao invés de na capacidade de um ser onipotente intervir no Mundo a pedido de súplicas humanas.

5-       Creio na existência da Humanidade, ente abstrato porém real, que compreende o conjunto das pessoas do passado, do presente e do futuro, com cujas ações realizam o quanto existe no mundo, ao invés de em um ser sobrenatural, cuja existência não se demonstra, e em Cristo, cuja existência negam as ciências humanas, e aos quais se deva veneração.

6-       Creio na existência da vida presente e que é nela que devo realizar a minha felicidade, ao invés de na vida póstuma, da qual inexiste qualquer prova e na qual supostamente os bons encontrarão a felicidade.

7-       Creio no amparo dos homens e no da ciência empregada em seu favor, ao invés de no socorro de entes divinos ou de individualidades a que a teologia atribui poderes sobrenaturais.

8-       Creio no amor e no respeito dos homens entre si, ao invés de no deles por deus e vice-versa.

9-       Creio que devo amor ao próximo, como forma de se obter a fraternidade universal, ao invés de que deva amar a deus sobre todas as coisas para dele merecer o reino do céu.

10-   Creio que devo ser honrado por amor da honra e virtuoso por amor da virtude, ao invés de para merecer a salvação ou por temor à danação infernal.

11-   Creio em ofensas aos padrões morais de cada sociedade, variáveis conforme os tempos e os lugares, ao invés de em pecados ou em ofensas a deus.

12-   Creio que tudo é relativo e deve ser aberto à discussão pela inteligência humana, ao invés de em dogmas absolutos, decorrentes da letra ou do espírito de certos livros.

13-   Creio que devo praticar o bem por amor dos homens, visando a um mundo mais solidário, vivendo com altruísmo e buscando  a minha felicidade também em poder propiciá-la ao meu semelhante, para tornar o mundo em que vivo um lugar acolhedor, para mim, e para o próximo, ao invés de que deva praticá-lo por amor a deus no intuito egoísta de merecer um lugar nos céus e lá encontrar a felicidade por achar-me na companhia do pai supremo.

14- Creio no corpo como realidade natural de que cada qual deve dispor com liberdade, e na      mulher como fonte de ternura, ao invés de no corpo como fonte do pecado e na mulher como símbolo da tentação.

15- Creio na virtude como o desenvolvimento e a aplicação das qualidades humanas e na pureza como integridade de caráter, ao invés de, uma e outra, como castidade sexual.

16- Creio que a moral deve ser realista e justificável, altruísta e concorrer para a felicidade das pessoas, ao invés de que deva referir-se à divindade e resultar, direta ou indiretamente, de livros supostamente inspirados.

17- Creio na tolerância, na liberdade de pensamento e no respeito pelas convicções alheias, ao invés de na censura da concepção e da expressão do pensamento quando este contrarie os dogmas teológicos.

18- Creio no viver às claras, em que nada pratique de inconfessável, procurando reger-me pela moral e pelos bons costumes, ao invés de no perdão sistemático das transgressões, para reproduzi-las a seguir, na certeza de novo perdão.

19- Creio em exemplos edificantes, dignos de admiração e de imitação pela sua qualidade humana, ao invés de em sermões vazios de significado útil para o aperfeiçoamento humano.

20- Creio que nos momentos de infortúnio e de agrura devo recorrer à compreensão, ao carinho, à amizade e ao socorro do meu semelhante, ao invés de ao sobrenatural.

21- Creio em doutrinas cujo objetivo é o bem-estar das pessoas, durante a vida presente, ao invés de naquelas em que o supremo objetivo consiste na salvação individual e na vida eterna.

22- Creio no natural, no acessível à inteligência humana, no demonstrável, no homem  e nas suas capacidades, ao invés de no sobrenatural, no misterioso e no fantástico.

23- Creio em doutrinas  que se movem pela busca do benefício do ser humano e fundamentam-se no conhecimento científico, ao invés de naquelas que se pautam pelo serviço da divindade com base nas fantasias teológicas.

24- Creio, por isto e por muito mais, no Humanismo e no Positivismo, ao invés de na teologia, no cristianismo e no catolicismo.

 

 

 

 

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