Olavo, idioma, nova direita.

LOUVO OLAVO (sim: Olavo) pela sua valorização do idioma: é dos raros brasileiros que o faz, e tem milhares de ouvintes, e ainda bem (neste capítulo).

Também há olavinhos que escrevem mal (e falam mal ?); no entanto, abundantes deles são ledores assíduos e seu mestre indu-los a cultivarem o vernáculo e a lerem literatura universal.

A literatura universal deve incluir os bons autores do vernáculo, os que com mestria e elegância escreveram em português. Vale pouco ler em idiomas e ler pouco em português: o indivíduo será poliglota e tendencialmente deficiente na índole do idioma; escreverá com estrangeirismos de léxico e de sintaxe.

Quer realmente aprimorar sua comunicação ? Leia Machado de Assis por inteiro, Aluísio de Azevedo por inteiro, José Saramago por inteiro (1); atente-lhes na construção das frases. Despreze a maioria das traduções brasileiras de 1980 a esta parte, do inglês e do francês; prefira as portuguesas. Despreze as doutrinas de Marcos Bagno, da sociolingüística e a idéia de idioma brasileiro (é preciso impugnar mais as doutrinas de Marcos Bagno, o que fiz há mais de uma década. Vide meu blogue). Saiba que, máxime na escola pública, pouco lhe ensinaram e escassamente você aprendeu. Consulte a gramática de Napoleão Mendes de Almeida, e dicionários assiduamente. Atente nisto: fale com riqueza léxica e sintática, desenvolva estilo próprio. Imitar a fala do vulgo é vitando. Não pense que os jovens doutores com doutorado brasileiros, por serem-no, dominam o vernáculo: geralmente, são escrevinhadores de terceira categoria. Pratique o correto e dê o exemplo. Leia as gazetas portuguesas (Público, Independente); se puder, tire estágio escolar em Portugal — em ambos casos, preste acurada atenção no uso do idioma.

(1) Com 18 anos de idade, li “A guerra do fim do mundo” e “Os sertões” e gostei de ambos; maravilhei-me com o segundo. (Esta é para os realmente versados na literatura brasileira).

Olavo tem milhares de alunos e ouvintes; são incontáveis os olavinhos. Ele os estimula a levarem VIDA ESTUDIOSA, do que me parece-me óbvia a conseqüência: a formação de camada especialmente instruída, que produz intelectualmente (artigos, ensaios, blogues, livros, conferências, postagens, entrefalas) e que introduz em circulação seu modo de ver, o que terá efeitos a médio ou longo prazo.
Como dizia Augusto Comte, as mudanças mais duradouras e eficazes são as que se dão na média das idéias em circulação. Até fins dos anos 1990, circulava mais do que na média o ideário de esquerda (hoje em diminuição), cujo modo de atuação consistiu na revolução cultural operada pelos assim chamados “intelectuais orgânicos”. Hoje, olavinhos e olavizados que levam vida estudiosa (serão minoria de quantos recebem o influxo de Olavo) e produzem intelectualmente (são minoria da minoria) encarnam, já, fonte de ideário alternativo ao prevalecente até fins dos anos de 1990; seu modo de atuação é por círculos concêntricos, em que alguns transmitem a vários, que retransmitem a mais outros. As películas do Brasil Paralelo alcançam muitos milhares de espectadores, em que o circulo é alargadíssimo, o que potencialmente transmutará as mentalidades rapidamente.

Editoras como Vide Editorial, É Realizações, vêm divulgando abudante literatura não esquerdista, anti-esquerdista, conservadora que concorrerá para com a formação de público instruído, esclarecido (quando menos, lido) em vez de dotado de conhecimento raso no que toca às suas inclinações intelectuais e à sua cosmovisão. São como sementes, que frutificarão. O período militar foi a fase máxima do livro esquerdista no Brasil (disse Olavo); vivemos fase de presença do conservadorismo ou da desesquerdização na cultura literária: é neste campo que a esquerda deverá afirmar-se. Aparentemente, está incapaz de fazê-lo.

O marxista Daniel Aarão Reis declarou, em entrefala recente, que a “nova direita veio para ficar”. Sim. Na mesma entrefala, o marxista Boris Fausto declarou que “na academia ninguém leva a sério o Brasil Paralelo, mas tem penetração popular” e que oculta as mazelas de nossa história. O Brasil Paralelo é excelente realização e só é “conservadora” no sentido em que não é acusadora, detratora, denunciadora; não se atém ao ruim e sim ao bom. Há descompasso entre certo setor da academia e parcela (em aumento) do público. Com o tempo, a geração de docentes esquerdistas passará e será substituída, a pouco e pouco, por professores com outro modo de ver, o que, a rigor, deveria ser indiferente pois não incumbe ao professor incutir seu ideário nem militar em prol de suas preferências (é o sentido, correto, da errada Escola sem Partido).

São mudanças em curso e para a esquerda, por tantos anos habituada à sua hegemonia (como queria Gramsci [“gramçi”]) mental, surge antagonista que ela já não pode ignorar e que vai constituíndo quadros intelectualmente petrechados, em meio ao emburrecimento geral do brasileiro médio, produto (consoante Olavo) da hegemonia esquerdista.
Outra novidade significativa: a Casa de Rui Barbosa realiza exposição sobre Ronaldo Reagan e Margarida Tatcher. São inúteis invectivas e epigramas: a concorrência de ideários existe e a esquerda já tem de haver-se com ela.

 

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2 respostas para Olavo, idioma, nova direita.

  1. alencardc disse:

    Escrevo muito mal e gostaria de aprimorar esta habilidade. Você diz que devemos atentar na construção das frases dos autores clássicos, mas de que forma devo fazê-lo? Devo prestar atenção em quê?

  2. Olá. Procure ler, assiduamente; notará diferenças em relação ao modo como (você) escreve e ao que está habituado a ouvir. Preste atenção nas palavras que o autor empregou, nas preposições que usou em cada verbo, na maneira de “falar” das personagens, no encadeamento das idéias, no uso da pontuação. Porém não leia com preocupação de observar tudo isto; leia fluentemente, antes de tudo, com atenção no próprio texto, no entrecho, nos diálogos — na história, enfim. À medida em que ler, automaticamente atentará na construção frasal. Trechos que não entender, releia. Com o tempo, perceberá a graça, a beleza do estilo em dadas passagens: é as que relerá com proveito (neste aspecto, as Cartas de Fradique Mendes, de Eça de Queiroz, são primorosas). Bom exercício é o de pensar como você exprimiria o pensamento ou o fato que acaba de ler: lerá, “exercitará” sua capacidade; relerá , para comparar o seu desempenho com o do autor. Este exercício é enriquecedor; não é imprescindível.

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