Complexo de vira-latas do brasileiro.

 

Freqüentemente fala-se no complexo de vira-latas do brasileiro, seu sentimento de inferioridade em relação a outros países. Ele justifica-se ? Ou surgiu por efeito de informações erradas ?

Edson Nery da Fonseca observa: “Pertenço a uma geração que aprendeu nas escolas duas lendas apresentadas como históricas: a do descobrimento do Brasil por um acaso e a do mal que teria representado para nós a colonização portuguesa, simplisticamente comparada a colonizações de outras origens. São duas lendas inspiradas por um só sentimento: o de lusofobia. E baseadas numa hipótese que está longe de ser provada: a do atraso científico de Portugal.” (Edson Nery da Fonseca. Uma cultura sempre ameaçada, in Uma cultura ameaçada, Gilberto Freyre, É realizações, 2010, p. 91).

J. Salgado Freire, no seu Para onde vai o Brasil ?, produziu dois capítulos de lusofobia, fundamentado, parcialmente, na História de Portugal, de Oliveira Martins, em que este enfatizou, seletivamente e quiçá com exagero, todas as mazelas que se lhe deparou no seu assunto (equivalentemente ao próprio Laurentino Gomes, em 1808). A fonte não poderia ser mais tendenciosa e as suas conclusões são um tanto declamatórias. Refere alguma legislação colonial adversa ao florescimento do Brasil pré-1808 e, no entanto, profere isto:
“Abalando o mundo, a guerra ensejou o progresso de nossa indústria. E pôs a descoberto a causa de nossos males. Antes, nós os explicavamos pelas mais estafúrdias hipóteses: raça inferior, doenças, analfabetismo, colonização portuguesa etc. Com a guerra descobrimos tudo: a causa era simplesmente o subdesenvolvimento […].
Raça superior era balela [a dos ingleses, holandeses e alemães]. Portugal e Espanha já eram ambas nações num tempo em que os inglêses e alemães ainda pulavam em árvores, de galho em galho. […] E no Peru, de tal modo fracassara a colonização alemã, a tanto desceram os colonos dolicocéfalos que os índios os olhavam com desprêzo, como raça inferior. Aqui mesmo [no Brasil] apareceram milhares de colonos americanos que fugiram de sua terra, quando da guerra de Secessão. Vencidos pelo meio, como nós, não fizeram milagres, caíram também no pauperismo, no subdesenvolvimento.” (Para onde vai o Brasil ?, p. 242). (Negritos meus).

 

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