Colonização do Brasil. Ferreira, João Ubaldo, Bueno e Laurentino.

Dentre inúmeros autores favoráveis à colonização portuguesa e justos em relação a ela, deparou-se-me o brasileiro Tito Lívio Ferreira, em “O idioma oficial do Brasil é o português?” (1977). Dele extratei estes lugares:

“Os Estadunidenses […] proclamam: — Colonizados por ingleses, eles nos legaram o seu idioma, a sua mentalidade e a civilização anglo-saxônica, além da pobreza. Quando fizemos a nossa independência há duzentos anos, eramos pobres. E pobres continuamos até meados do séculoXX.
Mas, por volta de 1850, descobrimos ouro, petróleo, carvão e cobre. {…] Em trinta anos, a nossa população dobrou. Entraram nos Estados Unidos trinta e nove milhões de emigrantes europeus.” (Tito Lívio Ferreira. O idioma oficial do Brasil é o português?, p. 26-7.).

Assim: a colonização inglesa deixou para as suas colônias, idioma, etos e POBREZA.

Sobre o ensino criado pelos ingleses nas suas colônias: “Nelas não havia escolas públicas. Uma ou outra escola dominical protestante funcionava precariamente.” (Idem, ibidem, p. 28).

“Entre 1550 e 1570 já funcionavam no Estado do Brasil, os Reais Colégios da Bahia, Porto Seguro, Ilhéus, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Vicente e São Paulo. Neles, os corumins, isto é, os filhos dos brasilíndios e os filhos dos portugueses aprendiam a ler, escrever e Português.”. (Idem, ibidem, p. 32).

Quanto à lusofobia de muitos brasileiros, que insistem em culpar o passado colonial brasileiro: “Apenas os indivíduos atacados pelo complexo de inferioridade podem pensar no fantasma do colonialismo. E são colonos intelectuais.” (Idem, ibidem, p. 29).

“Nenhuma outra nação civilizada semeou a cultura espiritual, religiosa e científica européia pelo planeta, assim como fez Portugal de 1540 a 1758.” (Idem, ibidem, p. 71).

João Ubaldo Ribeiro, escritor brasileiro, escreveu: “[…] a outra série de besteiras intensamente veiculada, segundo a qual, se não houvéssemos sido colonizados pelos portugueses, estaríamos em melhor situação, assim como estão em melhor situação a antiga Guiana [pronuncie o “u”] Inglesa, o Suriname, a Indonésia, a Nigéria, a Somália, o Sudão e um rosário interminável de ex-colônias européias, quando na verdade se trata de um caso claro de o buraco achar-se bem mais embaixo. Como é que se diz “babaquice” em tupi-guarani ?
[…] depois de tanta conversa fiada sobre como teríamos sido felizes para sempre, se os portugueses não houvessem aparecido aqui, ficou provado que, sem eles, não começaríamos nada.” (O besteirol dos 500 anos em poucas palavras, in Brasil e Portugal. 500 anos de enlaces e desenlaces, Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro, 2001, v. 2).

 

            Livros que recomendo para não quer ser mistificado pelo senso comum, relativo à colonização do Brasil:

            500 anos. Uma nova dialética, de Raimundo Lisboa, retifica lugares-comuns relacionados com a suposta desvantagem da colonização portuguesa no Brasil.

            O mundo que o português criou, de Gilberto Freyre, retifica lugares-comuns no que respeita aos supostos males da colonização portuguesa no Brasil.

            Nordeste, de Antonio da Silva Melo, retifica lugares-comuns quanto à suposta inferioridade racial do mulato e do mameluco, no nordeste brasileiro.

            Fórmulas políticas do Brasil holandês, de Mário Neme, retifica os lugares-comuns relativos à suposta excelência da ocupação holandesa no Brasil.

            Estados Unidos. A formação da nação, de Leandro Karnal, retifica (nos seus capítulos iniciais) lugares-comuns relativos à suposta excelência da colonização inglesa nos E. U. A.

            Sete mitos da conquista espanhola, de Matthew Restall, retifica alguns lugares-comuns concernentes à conquista espanhola da América Central.

Bosteja-se sobejamente no Brasil, acerca das nossas origens: há que ler os livros que indiquei.

 

Escravidão.

Joaquim Manoel de Macedo, em “As vítimas-algozes”, de 1861, livro exagerado e surreal na sua denúncia das mazelas da escravidão:

“Nunca em parte alguma do mundo houve senhores mais humanos e complacentes do que no Brasil […]”.

Lima Barreto, mulato, pobre e escritor de mérito, disse: “Há, sempre houve, sentimento liberal em favor do negro, no Brasil”.

 

Censura a livro de Eduardo Bueno:

Eduardo Bueno informa que D. Duarte da Costa, o segundo governador geral do Brasil; que Alvaro da Costa, filho dele; que d. Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil;  que Fernão Pires, padre; que Antonio Cardoso de Barros, primeiro provedor-mor da Fazenda do Brasil; que Pero Borges, primeiro ouvidor-geral do Brasil, foram todos acusados de corrupção. (A Coroa, a Cruz e a Espada. Lei, Ordem e Corrupção no Brasil Colônia, p. 9, 10 e 11. Eduardo Bueno. Editora Objetiva, 2006).

A abordagem de Eduardo Bueno é tendenciosa. No seu livro, ele frisa que tais personagens foram acusados de corrupção. Acusados é diferente de condenados. No mínimo, ele deveria ter completado a informação com outras, relativas ao apuramento das acusações.

Ser acusado nada significa e supõe a defesa do visado. Todos se presumem inocentes, até prova em contrário. Acusação não é indício de culpa nem início de prova, porém a informação de Eduardo Bueno, de que tais personagens foram acusados de corrupção, produz o efeito de senso comum em que o leitor desavisado e precipitado toma acusado por culpado.

Mau historiador, Eduardo Bueno prestou desserviço à consciência coletiva dos seus compatriotas, movido, quiçá, pelo ressentimento (anacrônico) do colonizado em face do colonizador; talvez pelo sentimento soez, tardio e extemporâneo de hostilidade lusfófoba e carente de senso de justiça. Sim, de justiça, pois seria de justiça que completasse a nota de acusação com o respectivo desfecho. Não se tome a exceção pela regra ou, se predominava a corrupção, demonstrasse-o.

 

            Censura a livro de Laurentino Gomes:

            No seu “1808”, Laurentino Gomes difunde a informação de que a corte de d. João VI era corrupta. Assacou-lhe, genericamente, a increpação de corrupção, sem, contudo, identificar os corruptos nem apontar os (alegados) atos de corrupção. Limitou-se a lançar pecha infamante, destituída de qualquer averigüação ou confirmação. Ainda que se fundamentasse em fontes de época, impõe-se ao historiador, quero dizer, ao bom historiador, ao que realmente pesquisa, averigua e esclarece, examinar o grau de veracidade dos testemunhos de que se vale e documentar as suas afirmações.

Nada disto Laurentino Gomes fez, porém não se privou de, sem mais, infamar a coletividade que era a corte, como se todos, nela, fossem venais. No mínimo, foi injusto.

Neste particular, “1808” é livro capcioso e não é de se levar a sério. Superficial e leviano, reagiram-lhe à altura José Verdasca e Antonio Guerreiro, com o seu “A colonização portuguesa do Brasil”. Também Isabel A. Ferreira refutou os aspectos mais estúpidos de “1808”, que critiquei sem contemplações. Vide

https://arthurlacerda.wordpress.com/2014/11/06/770/  (a que acede por “1808, de Laurentino Gomes, desmascarado”, em  arthurlacerda.wordpress.com).

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