DEGREDADOS NO BRASIL: OUTRO DESMENTIDO.

Agassiz Almeida: “Nisto que já se tornam lugar-comum: “o Brasil foi colonizado por degredados”; “quem veio para o Brasil foi a escória humana”; “os holandeses não deviam ter sido expulsos do Brasil”; “o Brasil devia ter sido colonizado pelos holandeses”; “Maurício de Nassau foi um grande administrador” […]

            Foi essa literatura deformadora impingida ao povo pelas elites portuguesa [?] e brasileira no decurso desses cinco séculos.

            Desconstituídos de verdade histórica, estes conceitos se tornaram chavões nas antecâmaras da elite política, econômica e religiosa.

            Acrescentam mais estes apodos: “o povo brasileiro é preguiçoso” […]. Contra esta anti-história se faz o escopo maior desta obra”. (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 94).

            “Não, não é do interesse da elite exaltar os feitos dos heróis anônimos que construíram este país; do descobridor, do colonizador; daqueles que edificaram engenhos de açúcar enfrentando índios; do minerador, do bandeirante, do sertanista; do intimorato que expulsou os holandeses; dos revolucionários de 1790, de 1817, de 1824. Exaltando os feitos do povo, fortalecer-se-á sua cidadania, e disto a elite é atemorizada.” (Idem, p. 105).

            Sobre degredados no Brasil:

            “Muitas e continuadamente repetidas, as inverdades históricas sedimentam nas gerações uma visão distorcida e falsa, levando o próprio povo a descrer na sua própria potencialidade, por desconhecer ou conhecer equivocadamente como e em que condições e circunstâncias, no curso de cinco séculos, chegamos a estes umbrais do tempo.” (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 28).

            “Recebemos, desde as primeiras letras, uma equivocada e perversa pedagogia […] de que a nossa colonização se fez por degredados, náufragos e a escória de Portugal.

            Por décadas, vem se perpetrando este ensinamento. Gerações e gerações que nos antecederam formaram a sua visão sobre nossa história neste prisma. Muitos chegam a proclamar, quase como um lamento, este raciocínio: “Oh, se nós tivéssemos sido colonizados pelos holandeses”. Da elite, principalmente daquela que se julga intelectualizada, ouvimos isso quase como um refrão. […]

            O bordão “foi um povo colonizado colonizado por degredados”, lança simplesmente à marginalização qualquer análise sobre quem foram os nossos longínquos antepassados. (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 161).”

            Quanto aos alegados 400 degredados que trouxe Tomé de Sousa (quantidade indigna de fé, por seu evidente exagero), pergunta-se Agassiz Almeida: “Se eram tão periculosos estes desterrados, por que juntos trabalharam com os homens livres, na construção da cidade de Salvador e em outras atividades, inclusive agrícolas ?” (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 162).

            “[…] as penas de degredo eram as mais leves, correspondentes ao que hoje se denomina no Brasil de contravenções.” (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 165).

            […]

            Que penas eram estas de degredo, tipificadas nestes delitos ? Dormir com mulher que peticionou ou se serviu de algum serventuário da Justiça ou da Corte; trazer para a Corte alguma mulher suspeita; viver o homem casado em concubinato; praticar a prostituição; blasfemar contra Deus ou santos; praticar jogo de azar; entrar em casa de alguém para fazer mal; advogado ou procurador, exercer falso patrocínio; praticar o cárcere privado; estar a pessoa desempregada; caçar perdizes, lebres e coelhos; remover marcos fixados por serventuário da Justiça; comprar colmeias e matar as abelhas; cortar árvores de fruto etc.” (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 166).

            “Escritores e historiadores se derramaram em escritos maledicentes e falaciosos com a assertiva de que fomos colonizados por degredados e pela escória de Portugal. (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 256).

            “Desde os bancos escolares, já nas primeiras letras, gerações e gerações ouviram esses apodos [de que o Brasil é país perdido e foi colonizado por degredados, índios preguiçosos e negros boçais]  que, sedimentados na consciência do brasileiro, fizeram surgir um complexo de inferioridade.” (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 180).

            “A orientação educacional de uma elite intelectual inoculou distorcida visão de que o nosso povo foi colonizado por “degredados, aventureiros e fugitivos religiosos etc.” (Quinhentos anos do povo brasileiro, p. 112).

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