Três táticas de patifaria.

                        TRÊS TÁTICAS DE PATIFARIA.

                                                           Arthur Virmond de Lacerda Neto. 23.4.2021.

            Duas táticas de combate político e psicológico foram preconizadas, nos últimos séculos.

            A primeira é: “Calunie, calunie, sempre fica alguma coisa”, ou seja, calunie, minta, invente, acuse, para incutir dúvida, receio, prevenção, aversão, no espírito alheio, contra seu adversário ou inimigo. Este aforismo foi recomendado pelos jesuítas e também por Carlos Marx; porventura teria origem anterior. Ele exige má-fé, ausência de escrúpulo, mentira, impudor moral, em suma, que seu praticante seja canalha e mentiroso.

            A segunda é: “acuse-os do que você faz”, acuse seus adversários ou inimigos do que você próprio pratica; impute-lhes os comportamentos errados ou imorais que você adota. Por exemplo: você fala alto e berra no telefone, então acuse-os de falarem alto e berrarem no telefone; você é mal-visto em sua família, então denuncie-os por (alegadamente) serem-no; você espiona o lar de seu inimigo, então acuse-o de espionagem de sua residência; você tem acessos de fúria, então acuse-o de ser descontrolado.

            Atente-se para o verbo acusar, diferente de informar, referir, comentar, narrar. Estas são ações ingênuas, praticadas de boa mente, puras de segundas intenções. Acusar implica enunciar, com censura explícita ou implícita, comportamento por alguma forma desabonador do visado, que o desmoralize, à parte das convicções que sustente e do ideário por que se bata. A acusação não refuta argumentos, não se lhes contrapõe, não examina o mérito das questões, mas volta-se a desmoralizar as pessoas, por atitudes que não praticaram. Mente-se com descaro: mentir, aqui, é indispensável; nenhum pudor, nenhum escrúpulo, nenhum limite da moral mais comezinha detém o acusador, que não se move por valores ideais (a Justiça, o Bem, a Paz, a Família) senão pela ânsia de sobrepujar seu antagonista.

            As mentiras, aí, são cínicas: é cinismo imputar a outrem o que ele não praticou, porém praticou o imputador, que conhece sua própria culpa e a inocência do acusado.           

            Tal tipo de acusação veicula projeções conscientes; são confissões da maldade do acusador que toma a si mesmo como critério das increpações.

            Essa tática foi preceituada por Lenine e também é manifestamente desonesta. É honesto acusar o adversário ou inimigo de comportamentos errados que ele realmente praticou; é velhacaria irrogar-lhe o que ele não fez; é hipocrisia ou falso moralismo verberá-lo pelo que praticou o mesmo acusador.

            Ambos preceitos denotam má-fé e mau-caratismo; ambos terão integrado a militância comunista. O que vale não são as pregações e sim os comportamentos.

            No ambiente jesuítico e na militância comunista, na Rússia de cento e tal anos, usavam-se estes meios, que lhes justificavam certamente os fins; por outro lado, observo quem doutoralmente predica excelsos valores, mas desmente-os com sua ignóbil praxe pessoal, quem increpa os comunistas de antanho por preconizarem ambos ditames e, contraditoriamente, pratica-os habilidosa e diabolicamente.

Em princípio, há patifes e hipócritas em todos os quadrantes de pensamento e independentemente até de professarem alguma doutrina.

            Eis porque suspeito de quem bombasticamente invoca a “moral”, a “ética”, os “rígidos e sólidos princípios da moral e da ética”, “os mais caros valores de nossa sociedade”, a “dignidade da Justiça”, o “decoro parlamentar”, as “nossas crianças e jovens”, a “defesa do ambiente”, o “combate à corrupção”, “a família, a pátria, a humanidade”, “o peso do passado”, “nossas melhores tradições”, a “índole de nosso povo”, a “igualdade de gênero”, o “conservadorismo”  e coisas quejandas, seja cristão ou teológico, seja humanista, pertença a esta ou àquela parcialidade política, a este ou àquele ideário. São pretextos e a terceira tática de patifaria.

           

            Não adverso aqueles valores, que os biltres invocam; afirmo que parte da patifaria consiste em invocá-los enfaticamente para criar aparência de moralidade, de santidade, de estarem eles acima de qualquer suspeita e moralmente por sobre seus antagonistas. Esse tipo de invocação dá-se em situações de antagonismo com pessoas, grupos, políticas, idéias, militâncias, como recurso erístico, ou, sem contencioso, como ardil para impressionar e prevalecer: não exprimem convicções, não contém sinceridade plena, não afirmam primordialmente princípios de vida; são instrumentos de combate, valiosos utilitariamente para causar espécie nos incautos, confundir os oponentes e vencê-los pela malícia.

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